| Apresentação |
Este estudo de caráter qualitativo e exploratório investiga o conceito de letramento humanístico das inteligências artificiais (IAs), com o objetivo de refletir sobre como humanizar tecnologias algorítmicas diante dos desafios éticos, sociais e culturais do mundo contemporâneo. O avanço da inteligência artificial tem transformado rapidamente as relações humanas e institucionais, suscitando debates sobre a necessidade de integrar valores éticos e humanísticos aos sistemas tecnológicos. A pesquisa, financiada por uma bolsa de pós-doutoramento do CNPq, é desenvolvida no âmbito do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz). A investigação combina revisão bibliográfica interdisciplinar, análise documental e entrevistas semiestruturadas com especialistas das áreas de tecnologia, saúde pública e ciências humanas. A abordagem qualitativa e interpretativa permite mapear os significados atribuídos ao conceito de letramento humanístico, identificando discursos, práticas e tensões que permeiam o desenvolvimento da IA. A fundamentação teórica do estudo baseia-se em autores como Pierre Lévy (2011), que discute o humanismo digital como uma forma de reconectar o conhecimento tecnológico à cultura e à ética; Hans Jonas (1984), cuja filosofia da responsabilidade orienta reflexões sobre os limites morais do progresso técnico. E, de outro lado, Griffi (2023) propõe uma bioética ampliada, integrando justiça social e saúde coletiva; e Bruno Latour (2005) traz uma análise das redes sociotécnicas e da coprodução entre ciência e sociedade. Também são incorporadas contribuições contemporâneas de autores como Cathy O’Neil (2016), que denuncia os riscos dos algoritmos opacos, e Ruha Benjamin (2019), que analisa os impactos da IA na reprodução de desigualdades sociais.Os resultados preliminares revelam uma lacuna significativa entre os discursos tecnocráticos predominantes e a incorporação efetiva de valores humanísticos nos projetos de IA. Observa-se que grande parte das iniciativas prioriza eficiência técnica, ignorando os impactos sociais, éticos e culturais dessas tecnologias. As entrevistas destacam a urgência de incorporar dimensões como empatia, diversidade cultural, justiça social e responsabilidade coletiva desde as fases iniciais da concepção e desenvolvimento tecnológico. O letramento humanístico é, assim, proposto como um eixo formador para uma IA mais consciente, ética e socialmente comprometida. |
